terça-feira, 9 de agosto de 2011

Tisha BeAv - A Destruição do SegundoTemplo




No ano 70 da Era Comum, sob o comando do general Tito, o exército romano invadiu Jerusalém, causando grande destruição ao Templo que havia sido reformado por Herodes. Um dos erros mais comuns hoje em dia é referir-se ao Segundo Templo de Jerusalém como se fosse o Templo de Herodes.

Tisha BeAv é uma data lembrada pelo povo judeu. A destruição do Templo foi amplamente mencionada na obra do historiador Flávio Josefo[1] e fizemos uso de suas informações históricas para relatá-las aqui:

O cerco da cidade ocorreu quando peregrinos de diversas regiões lotavam Jerusalém. Segundo o historiador houve diversas tentativas de acordos para entregar a cidade sem danos a população e a própria cidade. Ele mesmo foi porta voz discursando sobre o assunto. 

No entanto, era pedir demais. Era custoso demais para aqueles judeus patriotas entregar a cidade aos romanos sem qualquer tipo de resistência, sabendo das imposições a que seriam subjugados principalmente em relação a religião.

O próprio Josefo admite que os revoltosos não davam descanso ao exército romano em suas investidas. Trabalhavam incansáveis na luta em defesa da cidade. Ele ressalta a arrogância de Simão e João, mesmo em partidos opostos, que em suas estratégias e sede de guerra, deixaram obscurecer o raciocínio e sem compaixão até mesmo pelo próprio povo, lutavam dia e noite contra as forças romanas.

A fome, aliada dos invasores, com crueldade indescritível trazia discórdia entre familiares e irmãos de sangue. O pão, principal fonte de alimentação estava escasso a ponto de se esconder um pedaço entre as vestimentas para tentar escapar da morte por inanição. O povo morria as centenas, aos milhares em virtude da fome, dos maus tratos e da vingança dos exércitos de Simão e de João. Eles invadiam as casas a procura de alimentos para seus aliados, tentando mantê-los revigorados para guerrear.

O sofrimento do povo não intimidava tanto os que lutavam dentro dos muros de Jerusalém, quanto àqueles que assistiam de fora, a fome dizimar a população. Pelo contrário, o exército romano tinha comida de sobra e até fazia exposição da mesma, talvez tentando atrair para si, alguns aliados, que pelo desespero diante da morte, traísse o seu próprio povo.

Os arredores da cidade onde outrora se via uma vastidão de árvores e jardins e bosques admiráveis estavam arrasados, mutilados pela prepotente maquinaria romana e suas tentativas de construir plataformas para invadir a cidade. Nem uma só árvore restou.

Os cadáveres de mulheres e crianças amontoavam-se dentro das casas, nas praças e ruas da cidade corpos em decomposição dos anciões e homens. O mau cheiro era insuportável. Não podendo mais enterrar os cadáveres, eles eram amontoados num canto, ou eram jogados pelo muro. Uma cena assistida diariamente pelos soldados romanos.  Um judeu que conseguiu fugir, conta que pelo portão onde estava viu passar cerca de cento e quinze mil e oitenta corpos. 

As investidas de Tito alcançaram seus objetivos e os soldados romanos entraram no Templo. Eles atearam fogo as estruturas das portas e o fogo se alastrou para outras áreas por um dia inteiro e uma noite. As chamas ardentes paralisaram os homens que até então não se tinham intimidado diante do inimigo. Conta Josefo que eles ficaram parados, amaldiçoando os romanos por aquela infâmia ao Templo sagrado. "Os revoltosos perderam as forças diante das chamas".

Numa compulsiva investida, os soldados romanos seguiam pelo Templo matando a todos que estivessem em seu caminho. Mesmo numa situação de cerco, os trabalhos no interior do Templo não havia parado e assim jovens, velhos e crianças, sacerdotes e levitas perdiam a vida diante dos seus inimigos. Tochas acesas eram jogadas em todos os locais, a fumaça negra contaminava todo o ambiente. De fora, parecia que todo o Monte Moriá fumegava. 

Josefo descreve que o ódio aos judeus cultivado durante todo o cerco de Jerusalém, não se deteve, mesmo diante das ordens ou da autoridade de Tito. Os tesouros foram saqueados. O fervente ardor que dominava os soldados romanos naquela hora se alastraria como chamas pelo mundo a fora no decorrer da História.

A destruição da cidade também fazia parte do plano de conquistas e Tito ordenou a demolição de todos os seus edifícios. Os soldados saqueavam-na levando toda a riqueza que encontraram na cidade. Os sobreviventes fugindo das chamas esconderam-se nos esgotos levando apenas a fome que os consumia a todos. Alguns se refugiaram em cima dos muros ou nas torres e dali mantinham resistência, mas também eram massacrados pela sede e pela fome, tão implacáveis quanto os soldados.

Os prisioneiros foram separados em dois grupos. Os mais jovens e fortes enviados para o Egito para trabalharem como escravos em obras públicas. Anciões e homens mais fracos foram todos assassinados, bem como os rebeldes e os assassinos confessos. Outros prisioneiros foram espalhados na província para serviram de espetáculos nas lutas com gradiadores . Cerca de onze mil morreram pela fome, pela peste, pelas armas e pelo fogo. Segundo o historiador, cerca de um milhão e cem pessoas morreu durante o cerco de Jerusalém.

Dominados pela sede de vingança, os soldados vasculharam os esgotos a procura de sobreviventes que eram assassinados sem misericórdia.

Em seu ímpeto pela glória de grande conquistador de sua época, Tito mandou arrasar Jerusalém até seus alicerces, de todos os seus magníficos edifícios não restou nenhum em pé. Um único pedaço resistiu intacto, o muro ocidental onde Tito desejou construir uma fortaleza com suas torres, para mostrar à posteridade a grandeza da ciência dos romanos. 

O Muro Ocidental durante muitos anos foi conhecido hoje como Muro das Lamentações, hoje, relíquia do patrimônio histórico e espiritual de Israel e da Humanidade. 








Ele continua lá, continua erguido, não para memória de Tito, para memória daqueles que tombaram na defesa da cidade e daqueles que morreram naquela tragédia.


 
Num soberbo espetáculo Tito é recebido em Roma. 

"No arco de Tito construído em 81 em comemoração á conquista de Jerusalém pelo Império Romano,vê-se esculpido no arco em mármore a mesa do pão ázimo, as trombetas de prata, e a menorá, estes simbolos do judaísmo".







“Judea capta” a inscrição na moeda romana marca o triunfo sobre os judeus.


A conquista de grandes cidades e cenas de guerra foi exposta em grandes armações de três metros ou mais. Cenas que os judeus experimentaram na própria pele. Os prisioneiros foram expostos e executados como derradeiro ato naquele espetáculo. Entre eles está Simão filho de Gioras, um dos chefes dos revoltosos de Jerusalém. Não me admira o fato de Josefo registrar a forma quase que doentia como aqueles homens enfrentaram seus adversários, mesmo com tantas perdas a Jerusalém. 

Essa coragem, mal compreendida por alguns, talvez tenha servido de exemplo a outros para lutarem com coragem até o fim, mesmo que fosse o fim de suas próprias vidas. Na história de Israel não havia lugar para covardes.

Jerusalém, arrasada pelo fogo expõe agora o seu opróbrio, os seus mortos. Homens, mulheres, crianças, velhos, sonhos estraçalhados, vidas interrompidas, esquecidas (?). 



Mas a história segue seu curso e hoje Jerusalém ergue-se novamente,tirando de suas entranhas forças, ressuscitando os mortos silenciados debaixo das ruínas, dos monturos,para mostrar o mundo a sua excelência. 






Enquanto seus opressores tiveram um curto espaço na História, Jerusalém Zahav ressurge das palavras do profeta: 


 
Porque o Senhor consolará a Sião; consolará a todos os seus lugares assolados, e fará do seu deserto como o Éden, e a sua solidão como o jardim do Senhor, gozo e alegria se acharão nela, ação de graças e voz de júbilo”.

                                                                 Isaías 51.3       




 Marion Vaz

Texto retirado do livro Eretz Israel de Marion Vaz
 


[1] JOSEFO, Flávio. História dos Hebreus. Rio de Janeiro. Ed.CPAD. 2004

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