terça-feira, 23 de agosto de 2011

David Rubinger, o fotógrafo de Israel



“O segredo de uma vida realizada é viver cada dia como se fosse o último, mas sempre planejar o futuro como se houvesse amanhãs sem fim... “ David Rubinger

As câmeras fotográficas são seu "terceiro olho", para não dizer seu olho principal. Ele foi definido por Shimon Peres, atual presidente do país, como "o fotógrafo de uma nação em formação" e viu sua carreira se desenvolver paralelamente à própria história de Israel. 


O maior legado que um foto-jornalista pode deixar é um trabalho que ajude a definir determinado período na história. Neste sentido, nenhum outro fotógrafo conseguiu juntar um arquivo de fotos tão significativas e abrangentes como David Rubinger. Através de suas imagens pode-se empreender uma viagem pelos principais fatos e personagens do moderno estado judeu, sua fundação, suas lutas e seu desenvolvimento. 







Sua carreira foi definida pela imagem captada por suas lentes no Muro das Lamentações, em 7 de junho de 1967, minutos após o Kotel ter voltado às mãos de nosso povo. Na imagem singela e significativa, três pára-quedistas postam-se ao lado do Muro. Seus nomes Zion, Itzik e Haim, os três jovens eram membros da unidade que recapturou o bairro judeu após quase 20 anos em mãos jordanianas. A foto que imortalizou aquele momento histórico, de importância maior para todo um povo, se tornou um ícone, e, seu artífice, um nome mundialmente famoso.

Sua vida: de Viena a Israel

A vida de Rubinger foi parte da tragédia, luta e vitórias vivenciadas pelo povo judeu no século 20, que ele com tanta maestria registrou. 

Seus pais, Kalman Rubinger e Anna Kahane, nascidos na Polônia, conheceram-se em Viena, onde se casaram. E foi em Viena, também, que nasceu David, único filho do casal, em 29 de junho de1924. Os Rubinger eram uma família tradicional de classe média. Judeus observantes, sua vida girava em torno da família, das festas religiosas e da sinagoga.

Ainda criança tinha plena consciência de ser judeu. Até o Anschluss, a anexação político-militar da Áustria pela Alemanha nazista, em março de 1938, os anos de escola foram relativamente tranqüilos - apesar das humilhações a que ele e outros três judeus de sua classe eram freqüentemente submetidos. Dias após a anexação, David e os outros judeus foram enxotados da escola, pois pelas novas leis raciais os judeus não podiam mais freqüentar colégios austríacos.
 
No mês seguinte, a vida de David sofre mais um baque. No caminho de volta para casa, seu pai é identificado como judeu é preso. Jogado em um caminhão, primeiro é levado a Dachau e, mais tarde, a Buchenwald. Anna empreendeu esforços desesperados para libertá-lo. 

Nessa época, os nazistas ainda permitiam a tentativa de requisição de vistos de saída aos judeus que tinham parentes no exterior e que aceitassem recebê-los. Frieda, a irmã de seu pai que morava em Londres, conseguiu obter para ele um visto de entrada britânico. Quando, em janeiro de 1939, o visto chega em Viena, Anna, de posse dos papéis, vai até a Gestapo que liberta Kalman na condição de que ele deixasse o país no prazo de duas semanas. Como as autoridades britânicas somente haviam concedido o visto de entrada para Kalman, ele se viu obrigado a deixar para trás esposa e filho.

Com poucos recursos, David e a mãe foram obrigados a se mudar para um apartamento de um quarto em Leopoldstadt, o bairro judaico. Na mesma época, o jovem se filia ao Hashomer Hatzair local, movimento juvenil sionista, inscrevendo-se em seguida na escola da Aliá Juvenil, onde lhe ensinaram noções básicas de algumas profissões, sendo em seguida enviado a uma escola agrícola.

Naqueles dias negros a sorte sorriu para David. Estava no primeiro grupo de jovens que a Aliá Juvenil de Viena ia enviar para Eretz Israel. E quando chegou a hora da partida, apesar de já ter eclodido a guerra, a viagem foi mantida, pois o navio que ia levar os jovens para a então Palestina. A mãe conseguiu sobreviver a duras penas, muito só, até 1942, quando foi levada para o campo de extermínio de Maly Trostenets, na Bielorrússia, onde foi assassinada. 

Ao chegar a então Palestina, foi enviado para o Kibutz Beit Zera, em Haifa, onde viveu durante três anos. Assim que completou 18 anos, alistou-se no Exército Britânico... Em setembro de 1944, quando o governo britânico concordou em criar uma Brigada Judaica, formada, sobretudo, de judeus de Eretz Israel, David passou a servir na mesma...

Em maio de 1945, a Brigada foi transferida para o nordeste da Itália, tornando-se um dos principais agentes da "imigração ilegal" de sobreviventes do Holocausto para então Palestina. Rubinger tem ativa participação nessas operações até ser estacionado na Bélgica. Na ocasião, seu oficial superior o envia à Inglaterra, onde ele reencontra o pai que não via desde 1939. Este lhe revela que uma de suas irmãs, Bertha, e sua filha, Anni, haviam sobrevivido à Shoá e estavam de volta em Gelsenkirchen, Alemanha...

No verão de 1946, as autoridades britânicas decidiram dissolver a Brigada e, em novembro daquele mesmo ano, David volta para Eretz Israel. No dia decisão da ONU pela Partilha da Palestina, 29 de novembro de 1947, David tirou sua primeira foto profissional: jovens judeus comemorando ao redor de uma viatura do exército britânico.

Logo após a partilha, David juntou-se a Haganá. Na Guerra de Independência que se seguiu, ele foi promovido a oficial do recém-criado exército israelense, as Forças de Defesa de Israel. Esteve entre os defensores de Jerusalém. David relembra a luta que travara contra atiradores jordanianos da Legião Árabe postados na Torre de Davi, que acabou ficando em mãos árabes até 1967.

Ironicamente, foi nessa mesma Torre que, em 1988, por ocasião dos 40 anos do Estado de Israel, Rubinger realizou sua primeira exposição individual: "Witness to an Era" - Testemunho de uma Era. Ele costuma dizer que a mostra foi um desses presentes que a vida nos dá...

Sua carreira

Após testemunhar o nascimento da nação, em 1948, Rubinger, como todos os israelenses de sua geração, vivenciou dez guerras e passou por inúmeros perigos.
Rubinger foi o fotógrafo que acompanhou praticamente todos os líderes israelenses em missões ao exterior.

Como o escritório central da Time-Life era em New York, Rubinger costumava ir freqüentemente aos Estados Unidos. Numa dessas visitas, esteve em Camp David.

Extremamente consciente da importância de organizar um arquivo para preservar a história, que, como diz, teve o privilégio de vivenciar, Rubinger criou uma das mais importantes coleções de fotografias do mundo, com mais de 500 mil imagens.

Em 1999, ele vendeu seu arquivo para o Yediot Ahronot, um dos maiores jornais de Israel.

A foto mais conhecida, sua "assinatura" 




Os soldados: Zion, Itzik e Haim - eram membros da unidade que recapturou o bairro judeu.















Em sua biografia, "Israel Through My Lens: Sixty Years As a Photojournalist", David conta que entrou na Cidade Velha 15 minutos após os pára-quedistas terem libertado o Kotel:

 "O espaço era muito estreito entre o muro e as casas que estavam na frente, apenas uns 3 metros. Eu estava deitado no chão em busca do melhor ângulo para fotografar. Então, vi os três soldados andando... A cena com que me deparei era pura emoção. Ao nosso redor, as pessoas choravam de alegria, e enquanto eu batia as fotos, as lágrimas rolavam pelo meu rosto, quentes de incontida emoção". 

“Vinte minutos depois, Shlomo Goren, Rabino Chefe das Forças Armadas, entra na atual Esplanada do Templo tocando shofar e carregando um Sefer Torá. Os soldados o carregaram nos ombros. Eu pensei: está é a minha grande foto. Lagrimas ainda escorriam no meu rosto quando a bati.”

Ao fazer um retrospecto de sua vida, Rubinger diz considerar-se um homem de muita sorte. Passou ileso por dez guerras e sobreviveu a inúmeras outras situações de risco. Atingiu o pico da profissão de fotógrafo e é mundialmente reconhecido. Teve acesso a muitos líderes mundiais e a personalidades fascinantes, orgulha-se de sua família, que lhe deu dois filhos, cinco netos e dois bisnetos.

Resumindo, considera-se um afortunado e diz que o segredo de uma vida realizada é viver cada dia como se fosse o último, mas sempre planejar o futuro como se houvesse amanhãs sem fim...




Artigo da Revista  Morashá   -  Edição 65 - set/2009

Durante anos olhava essa foto e me perguntava  quem eram esses três jovens soldados e quais eram os seus nomes? Hoje o Eterno D-us de Israel me fez saber. E é por isso que estou dividindo com vocês.

Marion Vaz

Nenhum comentário:

Postar um comentário