sábado, 13 de novembro de 2010

Israel Bíblico - O que temos a aprender

Pensar no território de Israel e não compará-lo ao Israel bíblico é algo quase impossível. Imagina-se logo Moisés atravessando o Mar Vermelho com uma multidão, em Davi golpeando o gigante Golias, em Abraão recebendo as promessas de D-us e em Jesus caminhando pela Judéia, Galiléia e Samaria. São imagens que carregamos em nosso subconsciente, que se desprende do passado para o presente num piscar de olhos.

Para não falar de homens, mulheres e jovens que almejam algum dia, fazer o percurso em direção à Terra Prometida. Quantos suspiros! Sentimentos que guardamos no mais profundo de nossos corações. Alguns até choram quando pensam nessa possibilidade. E não menos importante, os desejos se misturam quando se vêem dispostos a orar e pedir a benção de D-us para o Estado de Israel.

Intrigante é a facilidade de que alguns têm de denegrir a imagem de Israel em suas pregações ou conversas. Dificilmente encontro alguém manuseando a Bíblia, com profundo conhecimento do contexto histórico-cultural de Israel, que consiga expor-se sem comprometer ou deteriorar a idéia que a maioria dos ouvintes já tem a respeito desse lugar tão largamente amado por uns e tão odiado por outros.

O que me entristece é que não há arrependimentos. A maioria se acha plenamente convicta de sua obrigação espiritual em “advertir aos irmãos” quanto ao que chamam de “mensagem bíblica”. Às vezes o fazem com tanta naturalidade que provocam gritos e explosões de glórias a D-us dos desavisados. Tais preletores não têm a menor idéia de que mensagem fica lá, no subconsciente, e quando a pessoa ouve novamente falar de Israel, logo vem em mente "um povo pecador, rebelde e distante de D-us" (essa é a letra de um hino que fez sucesso por algum tempo numa rádio evangélica).

Aconteceu numa reunião dominical quando no auge da pregação o abençoado com as mãos levantadas e correndo de um lado para o outro afirmou: “Moisés não queria nem saber o que estava escrito na Torah!” A platéia expressou exatamente o que o pregador desejava: “Glória a Deus!”

De imediato pensei: Misericórdia! Ou ele não sabe quem é Moisés, ou não sabe o que a Torah! Será que se tivesse dito Pentateuco haveria o mesmo alarido? Qual a intenção ao usar a palavra hebraica Torah? Eu fico triste com esse tipo de atitude.

Eles usam exemplos do Israel bíblico em suas diferentes épocas, sem sequer mencionar o fato de que eram gerações completamente diferentes. A própria Bíblia nos informa que havia gerações que simplesmente “não conheciam o Senhor” (Jz 2.10) e o versículo ainda nos adverte que eles não conheciam nada do que Deus fez a Israel. E então fizeram coisas que desagradaram e alguns seguiram a outros deuses (VS 11-13). Resumo: As gerações anteriores deixaram de falar sobre os feitos de Deus para com o povo aos seus filhos e netos e assim foram se afastando de Deus! Será que não é exatamente isso que fazemos atualmente? Quando omitindo fatos históricos ou mudamos o contexto em função de "dogmas que criamos" para enfim nos assegurarmos de um público cada vez maior?

O fato de Deus consentir no registro de todos aqueles incidentes com o povo de Israel, não é para que Israel seja menosprezado, mas para que aprendamos com ele! Já ouvi declarações tão maliciosas que parece até que o homem (crente) do século XXI alcançou a Perfeição e que se tornou imune ao erro, ao pecado! Imagine se toda a nossa vida (nos mínimos detalhes) fosse exposta em um livro para que todos pudessem ler? E se todos os nossos defeitos fossem comentados e repetidos dia apos dia de geração em geração? Não é o fato de se falar o que está escrito na Bíblia, o que me incomoda é a omissão do contexto sócio-cultural de Israel, é o desprezo pela religião judaica, é o antissemitismo!

Há poucos dias atrás ouvi um pastor eloqüente ministrando sua habitual mensagem por um canal de televisão. O teor da mensagem era sobre o NOVO. Para garantir o controle espiritual dos seus adeptos, o abençoado insistia em expressões como: nova criatura, Deus fez tudo novo, Novo Testamento, nova aliança, renovo, etc. Em um dado momento ele declarou que o Antigo Testamento perdeu a validade diante do Novo Testamento. Ele não explicou mais nada por causa do término do tempo da mensagem (talvez seja esse o problema - a falta de tempo pra as pregações). Seguindo a linha de raciocínio do tal pastor deu pra entender que ele falava de costumes de igreja A e igreja B. Pergunto: O que o Antigo Testamento tem haver com isso?

Toda a Bíblia é a Palavra de Deus! Não se pode menosprezar tudo o que Deus determinou na Lei e nos Profetas! Isso ele não se interessou em falar e o ouvinte que procure ter o melhor discernimento sobre assunto! É por causa desse menosprezo pelo AT que existem crentes que fazem uma seleção dos livros do AT para ler. Alguns só leem os Salmos porque são mais fáceis de entender. Pra não falar naqueles que nunca leram a Bíblia toda.

Já percebi que alguns chavões também contribuem para deteriorar a imagem de personagens bíblicos: Jeremias, o profeta chorão; Jonas, o profeta que fugiu; Cuidado com a Penina! Sara riu porque era incrédula; Pedro negou três vezes! E o pior deles quando se referem a Davi como adúltero e homicida! Etc. Pergunto: Como nós chegamos a esse estágio?

Eu temo pelas futuras gerações e que num futuro próximo, não haja mais compreensão do certo e do errado! Foi um movimento sócio-cultural e religioso (antissemitismo) que se desenvolveu durante séculos, que transformou a vida de judeus numa verdadeira guerra pela sobrevivência. Muitos foram mortos por causa da intolerância social e religiosa, Esse sentimento trouxe agravantes que culminaram no Holocausto – 6 milhões de judeus mortos na Segunda Guerra Mundial.

Infelizmente, nos dias atuais, falar mal do povo de Israel, principalmente Israel bíblico, tornou-se algo comum, louvável e às vezes, inescrupulosamente doentio. Desculpe, mas se você não concorda comigo preste mais atenção no que ouve em alguns hinos que são cantados e em determinadas pregações e detecte as frases de efeitos que mancham a imagem de Israel. Imagem já deteriorada pela Mídia nas questões referente ao Oriente Médio em função dos conflitos árabes-israelense.

Felizmente, existem aquelas pessoas que realmente não só estudam os textos bíblicos, e tem a preocupação de entender o que dizem os originais no hebraico e grego, as tradições judaicas e o contexto sócio-cultural de cada época, mas transmitem aos demais. E estes, vai aí o meu agradecimento, pois fica muito mais fácil enxergar um Israel completamente diferente!

Baruch HaShem!

Marion Vaz

Nenhum comentário:

Postar um comentário