Dois ambientes sociais
podem ser definidos em Israel, o religioso e o secular. Um artigo publicado esta
semana no jornal O Globo, mostra que cresce o número de jovens que suicidam ao
renegar a religião.
Em comunidades ultraortodoxas como Mea Shearim em
Jerusalém, por exemplo, em que o ambiente religioso prevalece, a vida segue o
seu curso com suas tradições, deveres e obrigações do dia a dia, costumes,
vestimentas, adoração e temor a D-us. Uma sociedade inserida em outra, mas
vivendo separadamente da vida secular dos bairros modernos.
Há outras cidades e
comunidades em Israel onde prevalece o estilo de vida ortodoxo e outras que
mantém os dois ambientes.
Esse rompimento com a
religiosidade pode causar certos conflitos pessoais, adicionado à perda de
familiares e amigos, o preconceito, a inadequação e o sentimento de estar
completamente perdido. Em qualquer situação, uma decisão de mudança radical
pode causar certos constrangimentos, seja em família, em sociedade, ambiente
educacional ou até mesmo em relação à própria pessoa. Isso não é decorrente da
decisão que foi tomada, mas de um conjunto no qual se estava inserido. No caso
dos haredis, a situação se agrava,
pois não se pode apagar de uma só vez, tudo o que se aprendeu e viveu até
aquele dia. É notório que ao entrar em contato com um ambiente diferente haja
um choque cultural e religioso.
Em comentários na rede
social Facebook, pessoas que deixaram de guardar o Shabat afirmaram que no
início tiveram dificuldade em romper com as tradições. Outras mostraram que não
se sentem completamente em paz com suas decisões. É como se os laços do passado
interferissem no presente. Outro artigo informou que algumas decisões são tomadas quando entram para o alistamento militar.
Em seu artigo, Daniela
Kresch, que vive em Israel há mais de 10 anos, mostra que essa ruptura ocasiona o afastamento familiar e com a
sociedade religiosa. Ao encarar a realidade da vida moderna, o secularismo de
cidades como Tel Aviv, as dificuldades financeiras e a inadequação social, estes
ex-ultraortodoxos se tornam solitários e têm problemas psicológicos. Muitos não
aguentam a pressão e recorrem ao suicídio. Foram 7 mortos nos últimos 18 meses. Kresch afirma que em média, 500
pessoas se suicidam em Israel anualmente e cerca de 20% tem menos de 25 anos.
Um percentual que já preocupa o Governo Israelense.
Os textos bíblicos nos
mostram que o sentimento religioso passava de uma geração para outra. Uma obrigação
dos pais ensinar os filhos o temor ao D-us Único (Devarim 6.4-9). Essa
preocupação e devoção fortalecia os laços familiares, a sociedade e o povo, principalmente nos momentos de crise e guerra.
Hoje, todas as tradições judaicas (ou parte delas) estão presentes na maioria
dos lares em Israel ou em comunidades espalhadas no mundo inteiro. Podemos
afirmar que é devido a essa obrigatoriedade de repassar aos filhos e netos o
que se aprendeu dos pais.
Assim, é de fato
explicável, que quando um filho se rebela e resolve largar os costumes e
tradições, os pais se veem obrigados a renega-lo. Daí essa separação dolorosa e
esse sentimento de abandono. Por outro lado, a decisão de sair do convívio da família
e da comunidade acarreta sérias complicações para quem não está devidamente
preparado, intelectual e financeiramente, para encarar a vida secular.
Num país em pleno
desenvolvimento como o Estado de Israel, jornalistas, economistas e entendidos
no assunto, tentam explicar como a visão religiosa se confronta com a visão
secular, as diretrizes governamentais, os diferentes ponto de vista, as
opiniões populares. E é notório que esse deslumbramento dos jovens para o novo,
o diferente, os direcione aos questionamentos e as mudanças. Assim, não me
atrevo a rotular quem quer que seja por sua decisão, nem culpar esse ou aquele
por atitude alguma.
No entanto, o suicídio
não é a resposta e nem mesmo o fim para tanto descontentamento. Uma ajuda
financeira e ações sociais, amparo psicológico e preparo para o mercado de
trabalho, pode ser a solução para a inclusão desses jovens na sociedade
secular. Mas isso também pode gerar polêmica e a ideia que o Governo está incentivando
o desejo de renegar a vida religiosa. Complicado.
Aceitando o fato de que
Israel tem os mesmos problemas (em termos) de nações do mundo ocidental, e está
em pleno desenvolvimento em áreas distintas, não podemos perder o foco de que a
Nação escolhida pelo Eterno tem uma missão espiritual também. Sem desmerecer as
demais crenças, a vida religiosa judaica,
seja ortodoxa, reformada ou conservadora influenciou a vida de milhares de
pessoas no mundo inteiro. Israel é um diferencial, que atravessou a linha do
tempo e chegou até nós como um povo que guardou a fé e a crença no D-us Vivo. Preservar em família as Leis e os Mandamentos
é como guardar um tesouro incalculável.
Aos jovens desgarrados
de suas religiões afirmo que não devem se culpar por tais atitudes. O suicídio
não é a solução. Quanto às famílias que se opõem acredito que deveriam
reavaliar atitudes.
Eu penso que o mesmo D-us que cuidou de Yaakov cuidará de
vocês também. Ao sair para habitar em Harã, por causa da fúria de seu irmão,
Yaakov orou: “Se o Senhor for comigo e me guardar, e der pão para comer e
vestidos para vestir e eu em paz retornar a casa de meu pai, o Senhor será o
meu D-us” (Bereshit 28.20). No contexto bíblico, nosso patriarca seguiu seu caminho sem abandonar a fé.
Esse
sentimento não pode se perder.
Marion Vaz