terça-feira, 16 de agosto de 2011

Israel no deserto



Os 430 anos de servidão no Egito enfraqueceram o coração dos herdeiros de Avran que viviam subjugados, oprimidos, num clima de adoração politeísta,  bem longe da Terra Prometida.  Pode-se ver a pressão psicológica e a aversão a mudanças, nos constantes conflitos dos anciões e da multidão.  Desejavam voltar para o Egito frente a qualquer desventura quando precisavam ser fortes, corajosos, para enfrentarem os “gigantes” que os esperava do outro lado. 

Mas do que isso, Israel precisava desejar aquele lugar, aquele território mais do que qualquer outra coisa. 


Imagine um povo numeroso com uma mentalidade fraca, deturpada pelos anos de opressão nas mãos dos egípcios que no Salmo 114 foi chamado de povo bárbaro, esbarrando nos problemas e nas dificuldades que uma caminhada pelo deserto suscita?!






Por vezes sem conta a história descrita na Torah nos mostra uma série de conflitos, ora com Moisés, ora com o próprio D-us. Sem contar os conflitos com os líderes de cada grupo de famílias e com os líderes de cada tribo, os quais a Bíblia não cita. 


Se hoje, um pai de família tem dificuldades para controlar uma casa, às vezes, com apenas 4 pessoas (mulher e filhos), imagine controlar cerca de 3 milhões de pessoas e no deserto?!  








O número de homens (com idade adulta) indicado no texto bíblico era de apenas 600 mil, mas acrescente mulheres, jovens, adolescentes, crianças, pessoas idosas e teremos esse total.

Quando ouvimos pregações a respeito da caminhada de Israel no deserto em que líderes religiosos criticam determinadas atitudes do povo, como se a trajetória fosse algo fácil, eu fico em dúvida. A maioria insiste que era só confiar em D-us! Descartam toda a complexidade da situação e o contexto social e espiritual do povo de Israel diante daquele desafio. 

Como eu disse no início, o povo que saiu do Egito parecia ter apenas uma vaga idéia, tanto a respeito da promessa de Deus ao patriarca Avran, como do próprio D-us. Toda informação a respeito do Eterno e das gerações que antecederam eram repassadas oralmente e naquele contexto de escravidão, podiam ter se distanciado ao longo dos anos. 

Hoje nós somos agraciados com todas as informações impressas ou on line e muitos artigos sobre todos os assuntos referentes à D-us e sua vontade, mas naquele período da História, o povo de Israel teve que aprender, passo a passo, a confiar no seu D-us, que os livrou das mãos dos egípcios e agora os conduzia a uma Terra de azeite e mel.

O conceito que se tinha do D-us Todo Poderoso (El Shadday), do Criador dos céus e da terra, do D-us de Abraão, Isaque e Jacó seria ampliado na longa caminhada. Assim, os Bney Yaacov conheceriam a D-us como Senhor (Ex 6.3). Na trajetória de 40 anos vagando pelas areias quentes do deserto começava a transformação moral, social e espiritual. 

Esse processo de reestruturação revela o imenso amor de um Deus para com o seu povo, que não os conduziu pelo caminho mais curto, que os levaria direto a região da Filístia. Esse povo fortemente armado dizimaria Israel em pouco tempo. Mas o Senhor os conduziu pelo caminho do aprendizado. 

A partir da Instituição do Decálogo e da Lei, Israel teria diretrizes para servir ao Senhor. Agora, não era mais uma religião imposta por outro povo, mas o desejo do seu próprio D-us e de como ele queria ser adorado. As leis sociais e administrativas, bem como as leis dietéticas também deveriam ser observadas. O Tabernáculo e a instituição de leis, sacerdócios e sacrifícios moldaram a vida espiritual de Israel.

Como em todo processo, Israel experimentou oscilações que o texto bíblico revela como também experimentou o agir de D-us em todo percurso. Inúmeras vezes o Senhor se revelou, alimentou e confortou o seu povo.  Foi no deserto que o Senhor D-us fez uma aliança perpétua e irrevogável com o povo de Israel.

Muitas vezes ouvimos dizer que o deserto é um lugar de solidão, de mesmice, de morte, mas foi no deserto que D-us tratou o seu povo no aspecto emocional e espiritual. Foi no deserto que a mão poderosa de D-us os conduziu de um lugar para o outro, que supriu todas as necessidades de comida e água e sombra e calor e livramento. Foi no deserto que um povo forte foi formado. 

Os meninos e jovens que cresceram no deserto, não eram mais as crianças que choravam e lamentavam por causa da fome e da sede. Tornaram-se homens valentes, conscientes da herança que tomariam posse através da guerra, da força, da intrepidez, da coragem. A rigidez da vida no deserto, da vida nômade, aliada a consciência da vontade de D-us para suas vidas, fez com que Israel conquistasse a terra prometida. 

Anos após anos ouvindo os ensinamentos, palavras de encorajamento, de fé, de conquista, moldaram uma mente forte e determinada. Não estavam mais apenas sonhando, agora estavam desejando, agora tinham certeza do que queriam.






Assim, a trajetória de Israel pelo deserto, debaixo da potente mão de D-us, foi um divisor de águas na própria História de Israel. O povo que retornou para habitar num território, agora infestado por religiões politeístas trouxe uma nova e real crença monoteísta que desafiava os povos circunvizinhos e seus próprios deuses.

Marion Vaz

Nenhum comentário:

Postar um comentário