terça-feira, 16 de agosto de 2011

O menino do pijama listrado



A maioria dos livros que li sobre o Holocausto sempre tinha uma visão mais realista daquela tragédia. Meu primeiro contato com essa categoria de literatura foi aos doze anos e de lá pra cá li dezenas de títulos. 

Cada livro me mostrava um perfil da história que eu desconhecia, alguns falavam de toda ação política de aversão aos judeus e como tudo começou. Outros falavam dos guetos, dos Campos de Concentração de mulheres, de homens, crianças, o que acontecia nos centros de pesquisas médicas, nos centros de coleta onde os objetos e roupas de judeus eram separados e catalogados. Informações sobre os fornos crematórios, as pilhas de cadáveres e sua remoção, o cheiro da fumaça negra que contaminava o ambiente... As cinzas que caiam...

Mas todos eles mostravam as atrocidades que os judeus e demais pessoas de raças diferentes sofreram nas mãos da Alemanha Nazista.

Enfim, em cada página um relato diferente, uma imagem que marcava minha vida. Chorei muitas vezes confesso. Não tinha como não chorar! Como não me sentir impotente, como não sentir raiva, como não sentir desprezo por alguém que foi capaz de tanta injustiça. Os judeus que morreram em Campo de Concentração não podem ser esquecidos, os demais que totalizaram 12 milhões de pessoas, de seres humanos, não poder ser apenas uma mancha escura na História da humanidade.

Assim, particularmente, o Holocausto de Seis Milhões de judeus deixou marcas profundas em mim também. Os sobreviventes, os seus descendentes são a prova viva de que tudo foi real e monstruoso!  Infelizmente esse “legado” histórico tem sido omitido e até retirado do currículo escolar em alguns países. Para esses deixo um recado: Mesmo que você use uma borracha para apagar algo que você não quer que outros veem, sempre ficam as marcas no papel. 


Quando vi o filme O Menino do pijama listrado esses dias, lembrei que tinha um livro em casa e li ontem. Interessante que o final do filme é diferente e mais dramático. 







O que me surpreendeu no relato do livro, apesar da própria história do holocausto não ser tão enfatizada, foi a forma quase que inocente do menino Bruno descobrir o que estava acontecendo sem perceber a monstruosidade por trás das “cercas”. 





No início ele achou que era uma fazenda e que as pessoas que ali “trabalhavam” usavam uniformes listrados. Aos poucos e, por causa de sua curiosidade de criança e suas indagações, recebeu algumas informações e outras que estavam bem longe da realidade.

Assim, detalhes do contexto sócio cultural da época, detalhes sobre o Genocídio, sobre os Campos de Concentração vão surgindo, é como se o leitor fosse descobrindo tudo passo a passo, junto com o Bruno. Não com aquela agressividade que outros livros apresentam, não com a veracidade dos fatos impregnados de dor e sofrimento, mas de forma sutil e tão simples quando o texto propõe.


A ingenuidade do menino e do amigo Shmuel me comoveu. Porque até então gerava aquela idéia de todos eram culpados! Todos deveriam “pagar por seus pecados”! Mas havia uma geração de crianças que não tomaram parte. 



 
Algumas foram seduzidas com ideologias, “formatadas” para que odiassem os judeus como o próprio filme mostra. Sim isso aconteceu. Mas nesse relato, havia um menino ingênuo que só queria brincar, que levava comida escondida para o judeuzinho que vivia do outro lado da cerca.


Assim como existiram pessoas que participaram do Genocídio, também temos aquelas que arriscaram as suas vidas para ajudar os que estavam condenados a morte por inanição, pelas pestilências, pelos trabalhos forçados, pelos tiros, pelo gás...






Eu não estou tentando fazer uma resenha do livro, mas apenas deixar registrado o que senti. Principalmente com o fato do menino Bruno que, para ajudar o amigo a procurar o pai, passou para o outro lado da cerca no dia exato em que todos os judeus estavam marcados para morrer na câmara de gás.

Confesso que eu não chorei. Não porque o fim não fosse triste, mas por causa do desenrolar da história e de toda inocência das crianças até o fim. Era como se agente ficasse esperando que um milagre salvasse os dois ou a todos! Mas isso não aconteceu porque a História não pode ser adulterada só para dar um final feliz! Apesar de que, em muitos relatos de sobreviventes, estarem vivo para contar tudo já era um verdadeiro milagre.

Assim, o que era apenas um serviço, uma obrigação, ou até mesmo um ato de lealdade do pai ao seu país em nome do regime político, virou uma tragédia pra ele também. 






Porque o pequeno Bruno, teve o mesmo destino do seu amiguinho Shmuel e dos judeus que o pai tanto odiava.


Marion Vaz  

Link do autor do livro John Boyne:  http://www.johnboyne.com/


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