A crença num D-us Eterno e Único é a base da religião judaica. O Shema é pronunciado pelos filhos de Israel desde a época de Moisés, o Libertador: "Ouve ó Israel, o Senhor nosso D-us é o único Senhor (Devarim 6.4). Mas esse envolvimento do povo com o seu D-us também tem um retorno. E é no episódio da chamada de Moisés para libertar o povo de Israel da escravidão no Egito (Shemot 3) que encontramos uma ligação tão forte.
Ao anunciar a Moisés a sua missão, o Eterno traz a memória o pacto feito a Abraão e sua descendência e ainda anuncia o nome pelo qual seria lembrado eternamente. O D-us de Abraão, D-us de Isaque e D-us de Jacó viu a opressão que os filhos de Israel sofriam no Egito e ficou imensamente incomodado. Era hora de dar um basta a tanto sofrimento e levar aquele povo de volta a Terra Prometida.
Falando dessa forma parece até uma espécie de "contos de fada" em que lemos de um ser supremo aparecendo com seus poderes quebrando "feitiços" e fazendo valer o bem. Mas muita gente ainda lê os textos sagrados assim, sem entender a realidade que o povo de Israel vivenciava naquele período da história. Sem sequer cogitar no sofrimento, na angústia, nos temores e nas mortes causadas pelos trabalhos forçados aos descendentes de Abraão.
E é por isso que este texto me surpreende, quando o Todo Poderoso de Israel procura um homem que vagava no deserto para fazer dele o libertador.
O texto sagrado revela três pontos importantes:
- Primeiro: D-us viu a aflição do povo. E não de uma forma comum, Ele viu atentamente. Tanta brutalidade no tratamento com os hebreus incomodou o Eterno.
- Segundo: D-us ouviu o clamor do povo. D-us ouviu os seus gemidos, o choro sofrido. Interessante que o texto afirma que D-us anunciou a Moisés: "Conheci as suas dores" (3.7) e isso é tão profundo e tão lindo ao mesmo tempo. Estamos diante de um D-us que se faz presente em meio ao sofrimento.
- Terceiro: D-us resolve libertar o povo através de Moisés. O texto diz: "Desci para livrar". Observe que D-us faz um movimento. Ele sai do lugar em que estava para tomar uma atitude a favor do povo de Israel.
Moisés ainda está confuso e procura desculpas para não realizar tal missão. Ele e o Todo Poderoso tem uma longa conversa. O Eterno estaria sempre ao seu lado, a cada passo, a cada problema que tivesse que enfrentar e aos poucos Moisés se convence do que tem que fazer. É compreensível que as dúvidas e o temor de enfrentar Faraó o intimidasse, mas o Senhor o havia designado para aquela missão.
Este envolvimento dos personagens bíblicos com o Eterno sempre me chamou a atenção. O homem mortal conversando com o seu Criador. Abraão, Yaakov, Moisés, Davi e outros, dialogando com um D-us, chamados de amigos, ouvindo seus ditos e até contrariando suas intenções como fez o próprio Abraão (Gn 18.25) e Moisés ao interceder pelo povo (Ex 32.33).
Após aquela conversa com o Eterno, Moisés volta com as ovelhas do seu sogro e informa que precisa ir ao Egito. Sua missão começa. E não era apenas libertar o povo de uma vida de escravidão. Era trazer de volta a promessa da Terra Prometida, o pacto feito aos patriarcas, a esperança de viver em sua própria terra. A grande multidão que acampa no deserto precisa de alimento espiritual: Surge a Lei e os Mandamentos. O povo precisa ter comunhão com D-us: Ergue-se o Tabernáculo. Orações e holocaustos começam a fazer parte do dia a dia. Festas e tradições marcam a religião. Muitas foram as dificuldades nas areias quentes do deserto.
Conflitos e guerras não podiam ser evitados, mas D-us dava vitória em todo o tempo. Enfim, chegamos! Cada tribo de Israel marcou o seu território. Ali, não estava mais um povo escravo, mas sim os herdeiros da promessa, conscientes de que aquela era a "terra de trigo e cevada, videiras e figueiras e romãzeiras, terra de azeite e mel".
Centenas de anos se passaram. Israel hoje é uma grande nação. 71 anos de Independência marcam um novo tempo para os judeus. Eretz Israel - É uma realidade!
Marion Vaz
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