segunda-feira, 20 de junho de 2011

A autoridade da Lei e do Sinédrio nos discursos de Jesus


Há pouco tempo li um artigo bem interessante na Web judaica cujo título me chamou a atenção: Por que os judeus não acreditam em Jesus. O autor faz questão de esclarecer que o artigo não tem a intenção de desacreditar outras religiões, mas de expor a posição judaica sobre o tema.

Entre outros são abordados assuntos sobre a Trindade, doutrina defendida pela religião cristã, quando para o Judaísmo Deus é um (echad). 








Algumas características do Mashiach também são ressaltadas no artigo que, comparadas com os textos do Novo Testamento, afirmam que Jesus não cumpriu todas as exigências. 

Algo que me chamou a atenção foi para o fato do Messias ser descendente de Davi, por parte de pai, do Rei David (Genêsis 49:10 e Isaías 11:1). De acordo com o Cristianismo, Jesus nasceu de uma mãe virgem e, portanto José seria seu pai adotivo, não podendo descender do Rei David”. 

Você há de convir que tal declaração é bem interessante.  No entanto, nos dias de hoje, afirma-se que para um homem ser considerado judeu é imprescindível que tenha tido uma mãe judia.

Independente das divergências entre as duas religiões encontramos algumas declarações de Jesus registradas no Evangelho de Mateus (5.17), nas quais o próprio Jesus declara que em hipótese alguma tinha o direito ou a autoridade para ab-rogar a Lei.

O texto afirma que ele mesmo veio para cumprir tudo o que já havia sido escrito pelos “antigos”. No Comentário Judaico do Novo Testamento encontramos a definição para o termo cumprir: Completar. 


Assim, Jesus teria dito que ele veio completar a Lei, e não, como muitos afirmam destruir, revogar ou até mesmo refazer, toda a Palavra de Deus que já havia sido revelada por meio da Lei e dos profetas.







Alguém pode estar se perguntando qual a necessidade desse comentário. O Sermão da montanha como é chamado, não se refere apenas as Beatitudes, mas a todo o restante do capítulo e os demais. Pensemos que os ouvintes eram moradores das regiões circunvizinhas, que estavam ali para ouvir um judeu.

Partindo desse ponto, seria impossível que Jesus fizesse qualquer afirmação contra a Lei e os profetas (Vs 19). Muito pelo contrário. Eu poderia até dizer que tal declaração era também uma defesa, talvez imaginando que poderia ser mal interpretado (ops! Isso vem acontecendo diariamente). 

Assim, ele passou a dar instruções, e também afirmava a autoridade da Lei para julgar e condenar, como também afirmava que o Sinédrio, era o conselho supremo no campo religioso, político e judicial do povo judeu (Vs 22).

Eu não sei em que ponto da História houve essa troca de valores, mas aqui nesse texto, encontramos Jesus usando todo o seu conhecimento referente a Lei e dos escritos dos profetas para embelezar seu discurso.

Vejamos: Primeiro ele afirma que não veio destruir a Lei, mas cumprir (ou completar). 

Segundo, afirma que “até que tudo se cumpra (passem céus e terra, segundo o texto analisado) nem um Yod (menor letra do alfabeto hebraico) e nem til (que se refere ao anexo que diferenciava algumas letras hebraicas de outras), se omitirá da Lei”. Jesus não estava dando autoridade a ninguém de mudar o texto sagrado. Mesmo porque, “o zelo pela Lei” não permitia que houvesse erros na reprodução dos textos. Não seria Jesus, um judeu, o primeiro a fazer isso!

Terceiro, no versículo 19 ele mesmo afirma que qualquer pessoa que violasse um mandamento, mesmo o menor deles, seria considerado o menor no Reino dos céus, expressão que praticamente intitulava todas as suas mensagens. Observe que Jesus foi enfático ao afirmar que não era só o fato de errar, mas de induzir outros a errarem. Ele tratou o cumprimento dos mandamentos com seriedade e ainda explicou as consequências.

Imagine que, cumprir a Lei e os profetas era parte primordial (fazendo uso de uma expressão basicamente cristã) para receber galardão. Eu não entendo como e por que se reverteu essa palavra, para afirmar que os Mandamentos a que Jesus se referia eram “aqueles” que ele ensinaria no decorrer de seu ministério, quando todo o texto refere-se à Lei. 

Mesmo porque os dois únicos mandamentos que Jesus ensinou, registrados no capítulo 22.37,39: “Amarás o Senhor teu Deus e ao teu próximo como a ti mesmo” são citados respectivamente em Dt 6.5 5 e Lv 19.18.  E olha que interessante, ele afirma que “destes dois mandamentos depende toda a Lei e os Profetas”!

O versículo seguinte (20) recebeu uma interpretação completamente fora do contexto. Quando Jesus afirma aos seus ouvintes que a prática da justiça deles deveria exceder a prática dos escribas e fariseus, não estava menosprezando esses dois grupos de judeus religiosos que faziam parte o Sinédrio, Conselho judaico que ele “delegaria” poderes no versículo 22. Seria uma contradição!   

Mesmo assim, o versículo é mencionado como se a justiça praticada por escribas e fariseus fosse algo deteriorado. E que aqueles que quisessem entrar no reino dos céus deveriam exceder tal justiça! Como? O que? Quando? Quanto? São lacunas que surgem... ou não! Depende do ouvinte, se ele realmente está interessado no texto ou se está ali só passando o tempo...

É alarmante que em pleno século XXI ainda tenha pessoas que deturpem o texto bíblico, para fazer valer sua filosofia ou em função de beneficiar parte da religião. Estão mudando o Yod e o til sem o menor constrangimento.

Outro dia um pregador afirmou que em todo o seu tempo de ministério ele jamais tinha feito uma pregação do Antigo Testamento e que não estava motivado a fazer isso tão cedo.  Ou seja, ele simplesmente não fala sobre o que está escrito no AT! (Não me pergunte porque, eu não entendi essa linha de raciocínio que omite parte da Palavra de Deus aos ouvintes!).

No capítulo 8 desse mesmo livro encontramos Jesus enfatizando o cumprimento da Lei, após curar um homem de lepra. Segundo Mateus, Jesus fala ao homem  que ele deveria  apresentar ao sacerdote a oferta que Moisés determinou na Lei.

A fervente e calorosa discussão de Jesus com alguns fariseus, registrada no capítulo 23 de Mateus, tornou-se o ponto de apoio para a difamação e retaliação da seita farisaica até os dias de hoje. Qualquer dicionário da língua portuguesa define fariseu como sujeito hipócrita. Essa forma pejorativa tem o apoio de lideranças (cristãs) que insistem em pronunciar tal definição.

Outros textos do Novo Testamento continuam a ser mal interpretados e difundidos entre os crentes, como por exemplo, na carta aos Romanos no capítulo 10.4, que afirma “o fim da Lei é Cristo”.  Em sua maioria, os crentes afirmam que a palavra fim aqui é término, quando na verdade tem um sentido de objetivo.

Assim, se considerarmos a palavra cristo no grego como tradução da palavra Messias que no hebraico é Mashiach entendemos que Paulo faz a seguinte declaração: “o objetivo da Lei é o Mashiach”.  

Concluímos que, se tanto na religião judaica como na cristã faz-se necessário a vinda de um Libertador para transformação do mundo que vivemos, nada nos resta a não ser esperar pela sua vinda. Quanto àquele que crê que Ele já veio e habitou entre nós como nos diz João 1.1, tanto para aqueles que aguardam e rezam todos os dias para a vinda do Mashiach, uma coisa é certa:    HaMashiach Ba!    


Marion Vaz




Nenhum comentário:

Postar um comentário